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Uso Racional da Metadona em Cães e Gatos

Escrito por: Amanda Pacheco, Jaqueline Pizzaia e Adriano Carregaro

A metadona é um opioide sintético agonista de receptores μ. Seu efeito sedativo se assemelha ao da morfina, porém promove menor incidência de náusea, vômito e menor probabilidade de liberar histamina na administração intravenosa (IV), além de possivelmente ter potência analgésica 1,75 vezes maior. A metadona também atua na redução da captação de noradrenalina e serotonina e na inibição dos receptores N-metil-D-aspartato (NMDA), impedindo a sensibilização do sistema nervoso central e tornando-se uma ótima escolha para o tratamento de dores moderadas a intensas, crônicas ou casos refratários aos opioides clássicos, como a morfina.

A metadona vem sendo utilizada cada vez mais em procedimentos anestésicos, incluída na medicação pré-anestésica (MPA), em técnicas anestésicas locais, como na anestesia peridural, ou ainda em analgesia pós-operatória. De modo geral, além do efeito analgésico, a metadona também promove sedação, depressão respiratória, êmese e constipação, além de ter impacto na função cardiovascular, reduzindo frequência cardíaca e pressão arterial, enquanto gera aumento de resistência vascular sistêmica.


Efeito dose-dependente

Obviamente, a metadona promove interessantes efeitos, especialmente analgesia. Porém, devemos lembrar que esse efeito é dose-dependente e entende-se que doses até 0,3 mg/kg (IM ou IV) são consideradas seguras para o uso em cães. Doses acima de 0,3 mg/kg já podem causar bradicardia, com bloqueio atrioventriculares e/ou contrações ventriculares prematuras, mas mantendo estabilidade na pressão arterial. A partir de 0,5 mg/kg, há queda do débito cardíaco, pressão arterial e resistência vascular sistêmica, podendo também ocasionar intensa depressão respiratória.

Em gatos, doses acima de 0,3 mg/kg IV podem causar redução da frequência cardíaca e depressão respiratória, porém, o uso de 0,6 mg/kg pelas vias intramuscular e transmucosa oral podem não promover alterações cardiovasculares e respiratórias significativas, além de produzir analgesia mais duradoura. Portanto, é importante considerar a via de administração, procurando evitar a via IV tanto em gatos como em cães.


Neuroleptoanalgesia com metadona

A neuroleptoanalgesia é obtida pela associação de fármacos sedativos e analgésicos, para que seus efeitos sejam potencializados. No caso da metadona, podemos fazer associações com os fenotiazínicos, agonistas alfa2 adrenérgicos e benzodiazepínicos.

A metadona, em doses usuais (0,3 e 0,5 mg/kg) pode ser associada aos fenotiazínicos em cães e causar boa sedação, mantendo a frequência cardíaca e frequência respiratória estáveis, além da redução da possibilidade de hipotensão. Já em gatos, esses efeitos não ocorrem, podendo haver até quadros de excitação. As associações com agonistas alfa2 adrenérgicos podem resultar em ótima sedação e analgesia, mas deve-se ter atenção à possível hipertensão, bradicardia, queda da frequência respiratória, além do efeito emético dos agonistas alfa2 adrenérgicos que não são reduzidos pela associação.

O uso da metadona com benzodiazepínicos pode parecer atraente, pensando-se em diminuir os impactos no sistema cardiovascular porém, não é observada sedação adequada com essa associação, podendo resultar inclusive em quadros de excitação e taquipneia. Com isso, torna-se necessário avaliar o custo-benefício para cada paciente e tipo de procedimento, promovendo um protocolo seguro.


Metadona durante a manutenção anestésica

São poucos os estudos, em pequenos animais, que descrevem as alterações fisiológicas na manutenção anestésica decorrentes do uso da metadona. Contudo, seu uso na pré-medicação pode agravar alguns efeitos adversos durante o período transanestésico, tanto na anestesia geral inalatória como na total intravenosa (TIVA).

Na anestesia inalatória em cães, sabe-se que a MPA com metadona pode reduzir significativamente o requerimento de isoflurano, principalmente quando associada à acepromazina. Porém, pode gerar bradicardia, além de não reduzir a hipotensão gerada pelo anestésico inalatório. Já na TIVA, a metadona na MPA pode ser vantajosa na redução da dose do propofol, principalmente quando associada à dexmedetomidina. Neste caso, também é importante ter atenção às alterações cardiovasculares, tais como bradicardia, hipertensão e queda no débito cardíaco.


Analgesia pós-operatória

Na elaboração do protocolo anestésico é importante considerar a dor pós-operatória, pois o manejo incorreto pode prolongar a recuperação do paciente, debilitando sua mobilidade e qualidade de vida. Em casos de cirurgias ortopédicas, a metadona é vantajosa por proporcionar analgesia intensa e leve sedação, contribuindo para o repouso do paciente no pós-cirúrgico. Entretanto é importante ter atenção à sedação pois, quando prolongada, acarretará na menor ingestão de água e alimentos, sendo necessário o ajuste de dose.

O uso da metadona pela via epidural também pode ser interessante para a analgesia pós-operatória, pelo fato de proporcionar maior intensidade analgésica e maior tempo de ação, quando comparada às demais vias. Além disso, a vantagem da metadona se dá pelo menor requerimento analgésico pós-operatório e menos alterações em padrões respiratórios na dose de 0,3 mg/kg por essa via.


O uso da metadona em pacientes politraumatizados

A metadona torna-se vantajosa em casos de traumas e hemorragias, nos quais os pacientes necessitam de rápida analgesia e sedação para controle da dor e auxílio à contenção. De acordo com o WSAVA, é recomendada a titulação de uma dose de ataque até que seja atingido o efeito desejado, podendo ser associada à adjuvantes em situações de dor severa.

É importante lembrar que o metabolismo do animal pode estar comprometido, portanto a dose deve ser ajustada de acordo com cada paciente. Na infusão contínua emergencial, deve haver monitoração e avaliação constante, uma vez que disfunções renais e hepáticas são capazes de acarretar efeito prolongado, sendo necessária também a suspensão lenta do fármaco, de modo a evitar hiperalgesia pós-infusão.

Doses e vias de administração da metadona em cães e gatos.

Concluindo…

A metadona é um opioide com alta qualidade analgésica, contudo seu uso deve ser bem analisado antes de qualquer procedimento devido aos seus efeitos adversos, principalmente os cardiovasculares. Mesmo em associação, o uso da metadona ainda deve ser bem avaliado considerando o procedimento, o paciente e a espécie, visto que, a depender do adjuvante, ainda pode haver efeitos de queda na frequência cardíaca e respiratória. Dessa forma, é necessário que os riscos sejam cuidadosamente avaliados para cada paciente, a fim de permitir a ponderação com os efeitos desejados, e então se constitua um protocolo anestésico e analgésico eficiente e seguro!


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Pra ler depois:

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2 thoughts on “Uso Racional da Metadona em Cães e Gatos

  • Névio Savieto

    Minha cachorra poodle de 17 anos, sofre de dores na coluna e umas das pernas fraturadas. Além disso é paciente oncológica há 8 meses, câncer de boca (tem dificuldade de se alimentar p conta disso) e trata c imunoterapia. É tbem renal cronica e cardio(sopro). Foi administrado metadona pela primeira vez há 3 dias e achei impressionante os resultados, voltou a comer muito bem, reduziu a incontinência urinaria(nao sei se ocorria p conta das dores). Foi recomendado c como alternativa p tratar as dores , o canabidiol. Marcamos a primeira consulta p 25/7/2022.

    Resposta
    • Olá Névio,
      Realmente, a metadona é um excelente opioide. Devemos lembrar que o tratamento com esse opioide deve ser de curto prazo, especialmente para tirar o animal de condições de sofrimento (diminuir a dor), e depois manter com outros medicamentos. Especialmente na sua cachorra, o tratamento será paliativo, ou seja, dar qualidade de vida pra ela.
      Abraços!

      Resposta

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