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Analgesia por infusão contínua em cães – Agonistas alfa-2 adrenérgicos

Escrito por: Bruna Sarri, Afonso Minato e Adriano Carregaro

Dando continuidade a nossa série de posts sobre analgesia por infusão contínua em cães, neste aqui iremos falar um pouco sobre o uso dos principais agonistas alfa-2 adrenérgicos. Se você não leu o primeiro post, sobre opioides, acesse aqui.

Os agonistas de receptores alfa-2 adrenérgicos são amplamente utilizados em pequenos animais devido ao evidente efeito sedativo e analgésico, que se dá principalmente pela ampla distribuição e variedade de receptores alfa-2, os quais estão presentes não só no sistema nervoso central e periférico, como na maioria dos órgãos e em locais extrassinápticos, como veias, artérias e plaquetas. A atuação desses medicamentos nos diferentes tipos de receptores alfa-2 resulta em uma gama de efeitos distintos, como analgesia espinhal, analgesia supraespinhal, bradicardia, vasoconstrição, alterações na pressão arterial e sedação. Maiores detalhes sobre o mecanismo de ação dos agonistas alfa-2 adrenérgicos, especialmente sobre o sistema cardiovascular, podem ser vistos aqui.

O mecanismo antinociceptivo dos agonistas alfa-2 adrenérgicos não está totalmente esclarecido, mas sítios supraespinhais e espinhais estão envolvidos. Por conta de sua localização difusa, a estimulação de receptores alfa-2 pode suprimir sinais nociceptivos em várias vias da dor, seja por (a) inibição do neurotransmissor das fibras aferentes primárias para outras fibras secundárias, (b) afetando a modulação pré e pós-sináptica de sinais nociceptivos que ocorrem no corno dorsal espinhal, (c) interferir nos sistemas modulatórios descendentes do tronco encefálico, ou (d) alterar a modulação nociceptiva ascendente no diencéfalo e sistema límbico. Assim, eles são interessantes opções para compor protocolos de analgesia multimodal e até mesmo atenuar ou reverter a alodinia que ocorre na dor neuropática.

Em pequenos animais, os agonistas alfa-2 adrenérgicos liberados para uso são a xilazina, medetomidina e dexmedetomidina. Dentre esses, os mais utilizados como infusão contínua são a medetomidina e dexmedetomidina, especialmente por terem maior seletividade alfa-2 e proporcionarem analgesia de melhor qualidade, quando comparada com a xilazina, por exemplo. Especialmente a dexmedetomidina tem sido associada a reduções significativas no requerimento de anestésicos gerais, tanto inalatórios quanto injetáveis, melhorando a estabilidade transanestésica e a qualidade na recuperação pós-operatória dos animais.


Principais Agonistas alfa-2 Adrenérgicos Administrados por Infusão Contínua em Cães

Medetomidina

A medetomidina é uma mistura racêmica da dexmedetomidina (forma ativa) e levomedetomidina (forma inativa), frequentemente utilizada em cães para promover sedação e potencialização de fármacos anestésicos e analgésicos. A medetomidina apresenta seletividade entre os receptores alfa-2/alfa-1 de 1620, sendo um fármaco extremamente seletivo, gerando menos efeitos simpatomiméticos quando comparada à xilazina. A infusão contínua de medetomidina é utilizada para sedação e analgesia, tanto pós-operatória como em pacientes hospitalizados, principalmente associada aos opioides.

Dose bolus: A dose bolus recomendada é de 2 a 10 µg/kg, administrada via intravenosa ou intramuscular.

Infusão contínua: Sugere-se doses entre 0,5 e 6 µg/kg/h, após o bolus inicial. A taxa considerada mais segura e eficaz seria de 1,5 µg/kg/h, especialmente para pacientes hemodinamicamente estáveis.

Possíveise efeitos adversos: Bradicardia, arritmias e redução do débito cardíaco; aumento da resistência vascular sistêmica (vasoconstrição periférica); letargia; hipertensão; hipotensão em doses altas; êmese; aumento da concentração plasmática de glicose e poliúria.

Evitar: Cardiopatas, diabéticos, hepatopatas, doentes renais e gestantes.

Dexmedetomidina

A dexmedetomidina é a forma ativa da medetomidina e, assim, apresenta mesma relação de seletividade alfa-1/alfa-2. Entretanto, por ser a forma pura, tem potência duas vezes maior, tornando-a muito potente. Sua ampla utilização em pequenos animais se deve à sua capacidade de promover analgesia e sedação com menos sinais de depressão respiratória quando comparada à administração de medetomidina ou mesmo xilazina em cães. Na forma de infusão contínua, além de promover estabilidade hemodinâmica e analgesia pós-operatória, também tem sido eficaz na redução da dose de fármacos anestésicos na indução e manutenção da anestesia geral de cães.

Dose bolus: Recomenda-se um bolus de 1 a 5 µg/kg, administrada por via intravenosa.

Infusão contínua: É recomendada taxa de infusão de 0,5 a 2 µg/kg/h. Doses de até 1 µg/kg/h podem ser utilizadas em períodos de até 24 horas sem causar importantes alterações cardiopulmonares.

Possíveis efeitos adversos: Os mesmos verificados com o uso da medetomidina.

Evitar: Cardiopatas, diabéticos, hepatopatas, doentes renais e gestantes.


Antagonistas

Os antagonistas dos receptores alfa-2 adrenérgicos, como a ioimbina (50 – 200 µg/kg) ou o atipamezole (100 – 300 µg/kg) são capazes de antagonizar farmacologicamente os efeitos sedativos, analgésicos e cardiovasculares dos agonistas alfa-2 adrenérgicos, sendo o atipamezole o antagonista mais específico para isso.

Apesar da disponibilidade desses antagonistas trazer mais segurança aos protocolos analgésicos, eles não devem ser administrados em todos os animais que receberam agonistas alfa-2. Antes de administrar o atipamezole é necessário considerar o potencial de excitação do paciente, a perda de analgesia que irá ocorrer, e os possíveis efeitos cardiovasculares da administração do reversor, como hipotensão e taquicardia. Frequentemente, em animais com elevada resistência vascular, especialmente provocada pelos agonistas alfa-2, a administração intravenosa do antagonista pode resultar em rápida vasodilatação, que se não estiver acompanhada do aumento da frequência cardíaca e do débito cardíaco, gerará grave hipotensão transitória. Para evitar esse intenso efeito hipotensivo, sugere-se utilizar subdoses e/ou utilizar a via intramuscular.


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Pra ler depois:

Acevedo-Arcique et al. Lidocaine, dexmedetomidine and their combination reduce isoflurane minimum alveolar concentration in dogs. PLoS One, 9:e106620, 2014.
Akashi et al. Effects of constant rate infusions of dexmedetomidine, remifentanil and their combination on minimum alveolar concentration of sevoflurane in dogs. Vet Anaesth Analg, 47:490-498, 2020.
Cândido et al. Effects of a dexmedetomidine constant rate infusion and atropine on changes in global perfusion variables induced by hemorrhage followed by volume replacement in isoflurane-anesthetized dogs. Am J Vet Res, 75:964-973, 2014.
Carter et al. The hemodynamic effects of medetomidine continuous rate infusions in the dog. Vet Anaesth Analg, 37:197-206, 2010.
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