Você usa Cetamina na MPA de Cães e Gatos? – NAVE Tretas #3
Nesse vídeo nós vamos discutir um pouco sobre o uso da cetamina, como sedativo, na MPA de cães e gatos. Essa conduta tem sido frequente por anestesistas, mas será que realmente promovemos sedação com cetamina?
Se pensarmos no principal efeito da MPA, que é sedação, a cetamina não vai nos ajudar. Ela até promove depressão cerebral, basicamente do córtex, diminuindo as sensações de tato, dor, visão e temperatura. Porém, outras áreas são estimuladas, especialmente o sistema límbico, que está relacionado às emoções. Então, o que temos com o uso da cetamina é estimulação de algumas partes do cérebro e inibição de outras. Além disso, não promove miorrelaxamento, pelo contrário.
Tudo bem que, quem usa a cetamina na MPA, administra doses bem menores que as que causariam anestesia dissociativa. Porém, há poucos estudos que avaliaram a eficácia da cetamina em doses “subanestésicas” como sedativo. Em um estudo realizado com cães que receberam 3 mcg/kg de dexmedetomidina + 0,3 mg/kg de metadona e 1 ou 2 mg/kg de cetamina, os autores verificaram que a sedação ficou pior nos animais que receberam cetamina, com alguns animais apresentando salivação e disforia, evidenciando bem os efeitos psicomiméticos desse medicamento.
Por outro lado, em um recente estudo com gatos (Pinho, 2024) que receberam 7 mcg/kg de dexmedetomidina + 0,3 mg/kg de metadona + 1 mg/kg de cetamina, a adição de cetamina foi benéfica, promovendo sedação intensa nos animais, sendo que nenhum deles apresentou efeitos psicomiméticos. Uma coisa importante é que eles utilizaram gatos mansos, de fácil manejo. Isso certamente pode ter influenciado os resultados.
Eu também concordo que em gatos ferais dificilmente conseguimos manusear o animal se não fizermos cetamina. Mas, nesses casos, dificilmente utilizamos 1 ou 2 mg/kg. Geralmente utilizamos doses maiores e aí nós não estaremos fazendo mais MPA, mas sim uma contenção química, ou praticamente anestesia dissociativa.
Acredito que se usarmos os medicamentos comumente utilizados na MPA, como os fenotiazínicos, agonistas alfa 2 e opioides, especialmente combinados, conseguimos promover sedação adequada em cães e gatos, sem a necessidade de dissociar o animal. Mas, vale lembrar que precisamos manter o ambiente silencioso e dar tempo para os medicamentos promoverem o efeito desejado.
Mas concordo que essa conduta é muito realizada hoje em dia… e vai depender de como o profissional encara isso. Só discuto aqui o efeito da cetamina como sedativo… o que ela não promove…
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Pra ler depois:
– Arenillas et al. Sedative and analgesic effects of two subanaesthetic doses of ketamine in combination with methadone and a low dose of dexmedetomidine in healthy dogs. Vet Anaesth Analg, 48:545-553,2021.
– Pinho ISR. Influência de uma dose subanestésica de cetamina sobre o grau de sedação, variáveis fisiológicas e dose de propofol em gatos premedicados com dexmedetomidina e metadona: estudo clínico, prospectivo e randomizado. UFRGS. PPG em Ciências Veterinárias. Dissertação. 2024, 31p.
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