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Guia de Manejo da Dor em Cães e Gatos – 2022 AAHA

Sem dúvidas, um dos assuntos mais discutidos e explorados na veterinária é o tratamento da dor em Cães e Gatos. Há diversos guias de como avaliar e tratar dor nessas espécies. Aqui mesmo no nosso site você pode encontrar dois excelentes guias, um da World Small Animal Veterinary Association (WSAVA) e um outro, escrito pelo Prof. Dr. Stelio Luna, da UNESP – Botucatu.

Nesse post nós vamos destacar os principais pontos abordados no novíssimo Guia de Manejo da Dor em Cães e Gatos, publicado no Journal of the American Animal Hospital Association – JAAHA. Para você baixar o artigo na íntegra, clique aqui.

O principal objetivo deste guideline é ajudar os veterinários a traçar um plano adequado de reconhecimento da dor e qual a melhor abordagem no tratamento, sempre baseado em evidências e priorizando o uso das modalidades terapêuticas mais eficazes. Um ponto importante nesse guia é uma excelente abordagem, em separado, para cães e gatos. Ainda que sejam espécies diferentes, com detalhes bem específicos na identificação da dor e tratamento, a maioria dos guias publicados, e também veterinários, ainda tratam esses animais de forma semelhante, o que é um erro.


Como reconhecer dor em Cães e Gatos?

Os animais que sofrem de dor aguda geralmente demonstram os sinais com maior facilidade e respondem rapidamente a um simples exame de palpação. Já o reconhecimento da dor crônica é mais difícil, especialmente pelos tutores, o que acaba dificultando e retardando o tratamento nesses animais. A grande maioria dos sinais são imperceptíveis na clínica e só são observados no ambiente em que o animal vive. Por isso, os tutores são fundamentais no processo de identificação da dor, com relativo impacto em relação aos cuidados deles com seus animais.


Dor aguda em gatos

Para identificar dor aguda em gatos podemos considerar a resposta positiva à palpação e o uso de diversas escalar de dor aguda em gatos. As principais escalas são a multidimensional da UNESP – Botucatu, a da Universidade do Colorado, a de Glasgow e a escala facial para gatos da Universidade de Montreal. Há diversos outros sinais, como falta de limpeza por parte do animal, agressividade, entre outros, os quais devem ser abordados na consulta clínica.

Dor crônica em gatos

Identificar dor crônica em gatos é o grande mistério. Os sinais são muito sutis e, como já abordado, dificilmente são demonstrados na clínica. Nesses casos, um tutor bem informado e cuidadoso no trato com seu animal passa a ser a peça-chave no processo. Algumas escalas podem ser usadas, mas basicamente são voltadas para osteoartrites e são baseadas em alterações nos comportamentos de correr, pular, descer e subir escadas e caçar. Nesses casos, temos a escala de dor musculoesquelética na Universidade da Carolina do Norte e o teste de osteoartrite da Universidade de Montreal. Uma boa saída é a filmagem dos animais no ambiente doméstico, para retratar a real situação do paciente.


Dor aguda em cães

Cães com dor aguda podem responder positivamente à palpação e também apresentar falta de apetite, depressão ou até agressividade. Há diversas escalas que são bastante úteis na identificação da dor nesses animais, destacando a da Universidade do Colorado e a de Glasgow. Também podemos utilizar vídeos do comportamento dos animais em ambiente doméstico.

Dor crônica em cães

Ainda que seja mais difícil identificar dor crônica que aguda em cães, comparando-se com gatos essa identificação é um pouco menos complexa. Os cães demonstram mais dor crônica que gatos, o que pode ser percebido pelos tutores com maior facilidade. Os mecanismos técnicos para identificar dor crônica em cães também estão mais avançados, com questionários sobre qualidade de vida que podem ser aplicados nos tutores, a fim de pontuar melhora ou piora em cada situação. Nesse sentido, temos um questionário sobre qualidade de vida, o de osteoartrite da Universidade de Liverpool e um específico sobre avaliação da insônia em cães, da Universidade da Carolina do Norte.  Tal qual em gatos, a filmagem dos animais no ambiente doméstico é uma importante ferramenta no processo de identificação da dor crônica em cães.



Tratamento da dor em Cães e Gatos

Particularmente, acredito que seja a parte mais interessante desse guideline. Os autores conseguiram, de forma extremamente didática, idealizar um fluxograma de tratamento para a dor aguda e crônica em cães e gatos. Nesse caso, eles diferenciaram a dor aguda de causa conhecida e não conhecida e dor crônica, sempre separando cães e gatos. Ainda há uma “escala” de tratamentos, dividida em três passos, de acordo com a intensidade e evolução da dor. Trazemos aqui para você a tradução desta figura para o português.

Diagrama de decisão para terapias de controle da dor em cães e gatos. Os níveis são apresentados da recomendação mais alta (primeira opção) para a mais baixa. Traduzido de 2022 AAHA Pain Management Guidelines

Aqui nós podemos ver que os anti-inflamatórios não esteroides (AINES), opioides e anestésicos locais ainda são os principais grupos farmacológicos utilizados para dor aguda, e os AINES e anticorpos monoclonais anti-NGF (Nerve Growth Factor) são os principais para iniciar o tratamento de dor crônica. Tratamentos não farmacológicos, como ômega-3, controle de peso e atividade física são altamente recomendados.

Caso a terapia inicial não seja efetiva, uso de cetamina, agonistas alfa-2 adrenérgicos, amantadina, gabapentina, e glicosaminoglicanos são encorajados como adjuvantes. Obviamente que esses medicamentos devem ser adequados para cada situação, lembrando que a terapia analgésica não é uma “receita de bolo”, sendo eficaz em uns casos e outros não.


Terapias não farmacológicas

Conforme já abordado, as terapias não farmacológicas são fortemente indicadas nesse guia. Fisioterapia, crioterapia, laserterapia, controle nutricional e dieta, atividades físicas, modificações no ambiente e equipamentos que facilitem a locomoção (cadeirinhas ou elásticos) são muito bem-vindos, a depender do “grau de tratamento”. Acupuntura é citada no guia, com especial benefício em doenças articulares e para diminuir os impactos da quimioterapia. Porém, os autores destacam que há poucos estudos que realmente evidenciam esses efeitos. Particularmente, indico essa terapia, desde que seja realizada por veterinários experientes no assunto. O mesmo vale para o sistema endocanabinoide, o qual certamente tem influência na fisiopatologia da dor; mas há uma lacuna em relação ao uso de fármacos que atuem nesse sistema, na tentativa de promover efeito analgésico.


E o que não usar?

Como opinião, acredito que esse guia reforça o que já é destacado pelo guia da WSAVA. Prioriza terapias convencionais, já comprovadas cientificamente, mas também indica terapias inovadoras, como a fisioterapia, crioterapia, acupuntura, uso de células-tronco, dentre outras que não necessariamente são novas, mas ainda pouco exploradas na veterinária. Por outro lado, algumas outras terapias utilizadas pelos profissionais da área, sejam farmacológicas ou não, nem são citadas… Isso deve servir de alerta para reflexão… Por que será que pessoas tão renomadas não indicaram outras terapias nesse excelente guideline?


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Referência do guideline:
– Gruen et al. 2022 AAHA Pain management guidelines for dogs and cats. J Am Anim Hosp Assoc, 58: 55–76, 2022.


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