VideoaulasAnestesia é o Básico

Equilíbrio Ácido-Base – Anestesia é o Básico #21

Olá tripulantes do NAVE, tudo bem? Nessa videoaula da webserie Anestesia é o Básico vamos conversar sobre a Equilíbrio ácido-base (EAB), abordando os sistemas tampão fisiológicos, como avaliar o EAB e os distúrbios ácido-base mais frequentes.

Os processos metabólicos são fundamentais para a produção de energia, mas também produzem ácidos voláteis e fixos, que devem ser neutralizados para manter o pH sanguíneo estável. O pH reflete a concentração de íons H+ em uma solução, que nesse caso é o sangue. Em condições fisiológicas normais a [H+] é de 40 nEq/L, o que representa um pH de 7,398. Na prática, o pH considerado normal em mamíferos domésticos está entre 7,35 e 7,45. As [H+] compatíveis com a vida estão entre 16 e 160 nEq/L (7,79 – 6,80). Para isso, o corpo trabalha com diversos sistemas tampão, a fim de neutralizar essa produção de ácidos

Sistemas Tampão

Basicamente, o organismo trabalha com três tipos de sistemas-tampão. O primeiro é composto pelos tampões químicos sanguíneos, que atuam imediatamente no controle da [H+] e, assim, são a primeira linha na tentativa de neutralizar o excesso de H+. Os principais são o bicarbonato, o fosfato e as proteínas circulantes. Ainda que o bicarbonato não seja o mais eficiente em neutralizar H+, ele está em maior abundância no sangue, sendo mais efetivo. Ele tem a capacidade de se ligar ao íon H+, formando o ácido carbônico, que por sua vez, é convertido em H2O e CO2, que é eliminado preferencialmente pelo sistema pulmonar.

Tamponamento do íon H+, pelo Bicarbonato (HCO3 / H2CO3).

A hemoglobina é o mais importante sistema tampão intracelular. Nesse caso, o CO2 se difunde facilmente do plasma para a hemácia e é convertido em ácido carbônico (H2CO3), via anidrase carbônica. O H2CO3 se dissocia em HCO3 e libera o H+. A hemoglobina, então, se liga ao H+.

Sistema tampão realizado pelas hemácias/hemoglobinas.

O segundo tipo é o sistema respiratório, que atua em questão de minutos, regulando a concentração de CO2. Ele é muito eficiente pois é um sistema aberto, ou seja, o excesso de CO2 produzido pelas reações químicas é eliminado facilmente por expiração. O terceiro é composto pelos tampões renais, que são extremamente importantes, mas com atuação mais lenta. Geralmente demoram dias para promover alguma alteração na concentração de H+. São muito eficazes, não só na neutralização de íons H+, mas também na eliminação desses íons. Nesse casos tem-se o tampão do bicarbonato, do fosfato e amônia.


Como avaliar o EAB

Os distúrbios do EAB são diagnosticados pelo exame de hemogasometria, que preferencialmente deve ser feito com sangue arterial, para que seja possível analisar os componentes respiratórios e metabólicos. Porém, também pode ser usado sangue venoso mas, nesse caso, apenas as alterações metabólicas serão diagnosticadas. O exame deve ser analisado o mais rápido possível, para que não haja alterações decorrentes do metabolismo celular. No caso, teremos os dados de pH, PaCO2, PaO2, SaO2, HCO3, Na+, K+, Cl, H+, intervalo iônico e excesso ou déficit de bases. A tabela abaixo apresenta os principais parâmetros obtidos pela hemogasometria e o intervalo fisiológico em cães, gatos, equinos e ruminantes.


Distúrbios do Equilíbrio ácido-base

Os distúrbios do EAB são de origem respiratória ou metabólica, podendo também ocorrerem ao mesmo tempo, o que chamamos de distúrbios mistos. A interpretação detalhada do exame de hemogasometria vai nos indicar qual distúrbio do EAB (ou quais) o paciente apresenta. Geralmente temos alterações no pH e PaCO2 quando os distúrbios são de origem respiratória no pH, PaCO2, HCO3, Cl, intervalo iônico (anion gap – AG) e excesso ou déficit de bases (base excess – BE) quando são de origem metabólica. Alguns valores podem até estar “falsamente” na faixa fisiológica, quando temos alterações fisiológicas de compensação. As principais alterações são:

  • Acidose Respiratória: É muito comum em situações de anestesia em que há hipoventilação, mas também pode ocorrer em pneumopatias, obstrução de vias aéreas, instabilidade da caixa torácica, insuficiência cardíaca dentre outras situações em que há deficiência nas trocas gasosas. Geralmente observamos pH < 7,35, com aumento da PaCO2.
  • Alcalose Respiratória: É um pouco menos frequente que o anterior e está associado a situações de ventilação mecânica inadequada, com excesso de VT ou Vm, ou em doença neurológica, hipertermia e dor. Geralmente observamos pH > 7,45, devido à diminuição da PaCO2.
  • Acidose Metabólica: É o distúrbio do EAB mais frequente em cães, gatos e equinos. As principais causas são diarreias, azotemia, choque hemorrágico, cetoacidose e quaisquer situações em que haja falta de oxigenação tecidual, consumo excessivo de O2 e/ou catabolismo anaeróbico. Há perda excessiva de HCO3 ou mesmo consumo desta base, e consequentemente excesso de H+, resultando em aumento no ânion gap. O Déficit de bases também estará bem mais negativo que o normal. A hemogasometria padrão apresenta pH < 7,35, HCO3 reduzido, AG elevado e BE bem diminuído. Também podemos observar PaCO2 abaixo de 35 mmHg, na tentativa de compensar o pH. Nesse caso teremos acidose metabólica compensatória (alcalose respiratória). Os níveis de AG também podem estar normais, caso tenhamos hipercloremia associada.
  • Alcalose Metabólica: É causada pelo excesso de HCO3, que geralmente é devido à administração errada de bicarbonato de sódio, ou perda excessiva de H+, que geralmente acontece em casos de hiperêmese, lavagem estomacal, ou uso prolongado de diuréticos de alça. Nesses casos teremos pH > 7,45, HCO3, AG e BE elevados também. Podemos ter AG normal, desde que tenhamos hipocloremia. Também podemos observar PaCO2 acima de 45 mmHg, na tentativa de compensar o pH.

Veja as informações com detalhes no vídeo!


Leia Também

Pra ler depois:
Beer KS, Waddell LS. Perioperative acid-base and electrolyte disturbances. Vet Clin Small Anim, 45:941-952, 2015.
Corley KTT; Marr CM. Pathophysiology, assessment and treatment of acid-base disturbances in the horse. Eq Vet Educ, 10:255-265, 1998.
– DiBartola S. Fluid, electrolyte, and acid-base disorders in small animal practice. 4th ed, 744p, 2011.
Rauserova-Lexmaulova L et al. Acid-Base, Electrolyte and lactate abnormalities as well as gastric necrosis and survival in dogs with gastric dilation-volvulus syndrome. A retrospective study in 75 dogs. Topic Co Ani Med, 39:100403, 2020.
– Teixeira-Neto FJ, Garofalo NA. Fluidoterapia, equilíbrio ácido-base e eletrolítico em grandes animais. In: Luna SPL, Carregaro AB. Anestesia e Analgesia em Equídeos, Ruminantes e Suínos, 1a ed, 33-52, 2019.


Sugestões? Considerações? Pensamentos? Comente!

One thought on “Equilíbrio Ácido-Base – Anestesia é o Básico #21

  • Anônimo

    Sou a Bianca De Oliveira, gostei muito do seu artigo tem
    muito conteúdo de valor, parabéns nota 10.

    Resposta

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Alguns números

212703
Views Hoje : 296
Views 30 dias : 16033
Views Ano : 49663
pt_BR