Circuitos Anestésicos – Anestesia é o Básico #15
Olá tripulantes do NAVE, tudo bem? Nessa aula da webserie Anestesia é o Básico vamos conversar sobre os “Circuitos Anestésicos“.
Eles são indispensáveis para a anestesia inalatória, transformando o anestésico que está na forma líquida em vapor. Nós temos diferentes equipamentos anestésicos, os quais são utilizados de acordo com o paciente. Porém, alguns detalhes são fundamentais, independente da espécie:
Acesso às vias aéreas
Para que a anestesia inalatória seja realizada, precisamos que as vias aéreas estejam desobstruídas. Além disso, a própria anestesia geral faz com que os reflexos protetores (no caso o laringotraqueal) seja abolido. Então, é primordial mantermos o nosso paciente intubado. Isso pode ser feito com sondas endotraqueais, de diversos tamanhos. Cada espécie tem uma particularidade na técnica de intubação. Sugerimos consultar essa playlist que mostra várias técnicas de intubação em cães, gatos, equinos, bovinos, suínos e outros animais.
Também podemos utilizar as sondas supraglóticas. Nesse caso temos as máscaras laríngeas, que são bem utilizadas em animais muito pequenos, como coelhos, roedores e mesmo gatos. Essas sondas vedam a entrada da glote, sem penetrar na traqueia. Também temos a sonda V-Gel, um modelo patenteado que “intuba” o esôfago, obstruindo o refluxo e liberando o fluxo de ar para a traqueia. Um video bem legal do funcionamento da V-Gel pode ser visto aqui.
Ainda sim, a intubação não é possível em algumas espécies. Nessas utilizamos máscaras faciais, que podem manter o fluxo anestésico e de gases medicinais, mas não garante que as vias aéreas estarão desobstruídas. Assim, o uso das máscaras para manutenção anestésicas só é indicado em último caso.
Gases Medicinais
Os gases medicinais são importantes pois vão carrear o anestésico ao paciente e também vão manter a taxa de O2 em concentrações adequadas para o procedimento. Na veterinária utilizamos basicamente o O2 e ar comprimido, os quais podem ser obtidos por cilindros. O O2 ainda pode ser obtido com concentrador de O2 e o ar comprimido, com compressor específico para uso medicinal.
Não podemos esquecer que a pressão interna em um cilindro de O2 ou mesmo ar comprimido pode chegar a 200 kgf/cm2. Essa pressão deve ser ajustada entre 3,5 a 7 kgf/cm2, que é o que suporta a rede de gases e os equipamentos. Isso é possível com uma válvula redutora de pressão, a qual é específica para cada gás. Um passo-a-passo detalhado de como funciona essa válvula e de como calcular a quantidade viável de O2 pode ser visto na video-aula de Checklist da Anestesia.
Fluxômetros e Rotâmetros
Esses componentes vão controlar o fluxo de gás fresco enviado para o paciente. A diferença básica entre os dois está na precisão. O rotâmetro é escalonado em mL/min e o fluxômetro em L/min, mas ambos tem a mesma função. Cada gás tem o seu próprio fluxômetro, com isso pode-se fazer mistura de gases, caso seja possível para o paciente.
Vaporizadores
Os vaporizadores são os componentes em que é armazenado o anestésico inalatório. O mais difundido é o vaporizador calibrado, o qual nos dá a concentração de anestésico é enviada na mistura de gases. Ele tem certa precisão nessa informação, não descalibrando com mudanças de temperatura, fluxo e pressão. A condicionante desses vaporizadores é que eles são específicos para cada gás anestésico, ou seja, não podemos utilizar medicamentos diferentes no mesmo vaporizador.
Também há os vaporizadores universais, os quais, a cada dia, são menos utilizados. Eles não são específicos, podendo ser utilizados para vários anestésicos inalatórios. Porém, não há como precisar a concentração de anestésico enviada e também há alterações na vaporização de acordo com alterações externas. Nesse caso, a demanda de anestésico é totalmente desconhecida, sendo baseada apenas nos planos anestésicos do paciente.
Circuitos Anestésicos
Após estabelecido o fluxo de gases frescos e a quantidade de anestésico administrada, temos os circuitos anestésicos. Infelizmente não há apenas um que seja possível de ser utilizados para todas as espécies. Assim, temos que adaptar o circuito ao nosso paciente. Podemos dividir os circuitos de diversas maneiras. Didaticamente, vamos dividi-los em “Reinalatórios” e “Não Reinalatórios“.
Circuitos Reinalatórios
Os circuitos reinalatórios permitem que o gás expirado seja reaproveitado. Com isso há economia de anestésico, gases medicinais e menor poluição ambiental. Historicamente haviam alguns tipos de circuitos nessa classe, como o “To-and-Fro” de Waters. Atualmente utilizamos apenas o circuito circular valvular, o qual contém válvulas unidirecionais que forçam a mistura de gases sempre a seguir uma única direção, e a cal sodada, que absorve CO2 e libera O2. Assim, parte do gás expirado continua no sistema e é reinalado pelo paciente.
Esse circuito deve ser sempre priorizado, devido suas vantagens, que são economia de anestésico e gases medicinais, menor poluição ambiental, manutenção de umidade e temperatura do paciente. Todavia, ele não é ideal para ser utilizado em pacientes com menos de 5kg, pois esses animais não tem capacidade ventilatória suficiente para vencer a resistência mecânica do circuito. Então, a alta resistência mecânica é uma desvantagem desse circuito.
Circuitos Não Reinalatórios
Esses circuitos muito simples, basicamente formados por uma traqueia corrugada e um balão reservatório. Há diversos modelos, muitos deles não mais utilizados. Os mais difundidos na veterinária são o Circuito de Baraka, de Bain e o de Jackson Rees.
A grande vantagem desses circuitos é a resistência mecânica praticamente nula. Entretanto, eles devem ser utilizados apenas em pacientes com menos de 5 kg. Isso porque, como não possuem cal sodada, não há reaproveitamento de gases expirados, elevando o consumo de anestésico e gases, além de elevada poluição ambiental.
Alguns livros recomendam que esse circuito seja utilizado em pacientes até 10 kg, pois alguns pacientes entre 5 e 10 kg podem não ter força suficiente para vencer a resistência do circuito circular valvular. Então, nesses casos, considere a capacidade ventilatória do paciente para a escolha do circuito correto.
Balão Reservatório
O balão reservatório é a peça distensível do circuito, sendo comum em qualquer configuração. O ideal é que tenhamos um balão nem muito pequeno nem muito grande. Geralmente utilizamos balões com 3 vezes o volume corrente do paciente.
Válvula de Escape (pop-off)
A válvula de escape também é uma peça comum nos circuitos. Independente do tipo, alguma parte do fluxo de gases deverá ser removida do sistema. No caso dos circuitos não reinalatórios, todo o gás fresco deve ser removido do sistema. Assim, essa válvula fica total ou parcialmente aberta durante o procedimento anestésico.
Devemos lembrar que esse gás deve ser filtrado e expurgado da sala cirúrgica, para que não promova poluição ambiental residual. Há no mercado sistemas de antipoluição a base de carvão ativado que retém o anestésico e libera o restante para a atmosfera. Outra possibilidade é o sistema venturi, que expurga o gás da sala cirúrgica, mas não filtra. Por fim, temos os sistemas passivos, os quais apenas removem o gás da sala, expurgando para o ambiente.
Infelizmente, os sistemas passivos são a realidade brasileira (e de muitos países também). O gás é removido da sala mas a poluição ambiental não é eliminada. Esse assunto será melhor abordado na video-aula de “Anestésicos Inalatórios”, ok?
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Find out more:
Baraka A. Functional classification of anaesthesia circuits. Anaesth Intens Care, 5:172,178, 1977.
Bateman et al. Comparison between facemask and laryngeal mask airway in rabbits during isoflurane anesthesia. Vet Anaesth Analg, 32:280-288, 2005.
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Gozalo-Marcilla M, Luna SPL. Equipamentos de Anestesia Inalatória. In: Luna SPL, Carregaro, AB. Anestesia e Analgesia de Equideos, Ruminantes e Suínos. 461-479, 2019.
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Soro et al. Functional characteristics of anesthesia machines with circle breathing system. Cur Anaesth Critic Care, 21:239-243, 2010.
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