Qual o melhor anti-inflamatório para equinos?
Os anti-inflamatórios não esteroides (AINES) são, sem dúvida, os medicamentos mais utilizados no tratamento da dor em equinos. Geralmente são a primeira escolha em casos de cólica ou laminite. Historicamente, percebemos uma preferência no uso da flunixina meglumina em casos de dor visceral e fenilbutazona em dores musculoesqueléticas. Essa “escolha” no uso de um ou outro medicamento se dá, muitas vezes, simplesmente porque é passado de “geração em geração”.
Se pensarmos que esses AINES têm atuação idêntica entre si, ou seja, bloqueiam de forma não seletiva a enzima cicloxigenase (1 e 2, no caso), os efeitos analgésico e anti-inflamatório deveriam ser similares. De fato, estudos científicos mostram poucas diferenças clínicas em relação aos efeitos desejáveis. Mesmo assim, a “preferência” da fenilbutazona e da flunixina se mantém entre os profissionais de medicina equina.
Cientificamente, o que diferenciam esses dois AINES no uso em equinos são os efeitos indesejáveis. A fenilbutazona tem potencial muito maior em promover lesões gastrintestinais que a flunixina meglumina. Um estudo evidenciou que o uso de fenilbutazona, durante 12 dias, promoveu muito mais lesões digestórias que a flunixin meglumina (MacAllister et al., 1993) (figura 1). Mas temos que considerar que os dois foram ruins nesse sentido. Lesões renais também são relacionadas a esses dois AINES, com a fenilbutazona também tendo maior capacidade de promover lesão (Bowen et al., 2020).
O meloxicam é um AINE preferencialmente COX-2, o que lhe confere maior segurança terapêutica. De fato, a recuperação do epitélio gastrintestinal em equinos com cólica foi mais rápida com o meloxicam que com a flunixin (Little et al., 2007) e ambos foram eficientes no controle da dor em cólica (Naylor et al., 2014). Por que então o meloxicam não é tão utilizado quanto os outros AINES, menos específicos? Em recente guideline da British Equine Veterinary Association – BEVA – há uma interessante discussão sobre a comparação entre esses AINES. Como guia, os autores entendem que ainda não há muitos estudos que suportem a comparação entre o meloxicam e a flunixin (para dor visceral) e fenilbutazona (para musculoesquelética), a ponto de sugerirem o uso do meloxicam (Bowen et al., 2020). Concordo em partes com o artigo, pois realmente temos muito mais estudos com a flunixin e fenilbutazona. Porém, não podemos deixar de lado, em hipótese alguma, os efeitos indesejáveis que os AINES não seletivos promovem…
Então vamos continuar com os AINES não seletivos em equinos? O próprio guideline evidencia os efeitos bastante interessantes do firocoxibe, tanto em dor articular quanto em dor visceral, comparáveis aos outros AINES. Mesmo sim, recomendam o firocoxibe com cautela pois ainda há poucos estudos com equinos…
E aí? O que você acha em relação a isso tudo?
Esse post está relacionado à videoaula Anti-inflamatórios, da webserie “Anestesia é o Básico”. Assistiu? Então vai lá e veja o vídeo!
Leia Também
Pra ler depois:
– Bowen et al. BEVA primary care clinical guidelines: Analgesia. Eq Vet J, 52: 13-27, 2020.
– Little et al. Effects of the cyclooxygenase inhibitor meloxicam on recovery of ischemia-injured equine jejunum. Am. J. Vet. Res. 68, 614–624, 2007.
– MacAllister et al. Comparison of adverse effects of phenylbutazone, flunixin meglumine and ketoprofen in horses. J Am Vet Med Assoc, 202:71-77, 1993.
– Naylor et al. Comparison of flunixin meglumine and meloxicam for post operative management of horses with strangulating small intestinal lesions. Equine Vet. J. 46, 427–434, 2014.
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Não tem jeito posso ler em outros sites, mas sempre volto
aqui para confirmar se a informação esta correta. Obrigado
pelas informações.
Olá Paulo,
Que bom ter esse feedback ; )
Abraços!