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Gabapentina em cães e gatos: realmente funciona?

Escrito por: Bruna Sarri, Jaqueline Pizzaia e Adriano Carregaro

A gabapentina é um fármaco anticonvulsivante, análogo estrutural ao GABA, que vem ganhando espaço como adjuvante analgésico, principalmente no tratamento da dor crônica e neuropática em pequenos animais. Apesar de ter eficiência comprovada no controle da dor na medicina, sua utilização ainda é muito questionada na medicina veterinária. Porém, já podemos ver a recomendação da gabapentina como adjuvante analgésico em diversas fontes de consulta, como nesta aqui do International Veterinary Academy of Pain Management (IVAPM)

Quando utilizar a gabapentina?

O principal uso da gabapentina é como anticonvulsivante em casos refratários a outros medicamentos, ou ainda como adjuvante de outros anticonvulsivantes, como o fenobarbital e o brometo de potássio. Porém, a função analgésica, ou melhor adjuvante analgésica, tem ganhado cada vez mais espaço no tratamento da dor em animais. 

Como analgésico, este fármaco tem sido útil para tratar animais que sofrem de dores neuropáticas crônicas decorrente de traumas acidentais ou cirúrgicos, amputações de membros, lesões em medula espinhal, hérnias de disco intervertebral, tumores no sistema nervoso central, fraturas pélvicas, incorporações errôneas de tecido nervoso às suturas, hérnias inguinais, siringomielia dentre outros.


Um estudo verificou que a gabapentina foi eficaz na redução dos sinais da dor neuropática em cobaias, como hiperalgesia e alodinia. Em ratos, a gabapentina administrada tanto por via oral quanto subdural inibiu a transmissão da dor inflamatória e reduziu a hiperalgesia gerada por injúrias nervosas periféricas e queimaduras.

Aparentemente a gabapentina foi capaz de reduzir a necessidade de morfina na analgesia pós-operatória de cadelas que passaram por mastectomia, mas não excluiu a necessidade da utilização deste opioide. Em gatos, verificou-se que o tratamento a longo prazo com gabapentina pode ser benéfico no controle da dor derivada de trauma cranioencefálico e doenças musculoesqueléticas



Em que situações pode não funcionar?

Um estudo realizado com cães que passaram por amputação de membro anterior concluiu que a utilização da gabapentina como adjuvante analgésico, tanto no período perioperatório como pós-operatório, não promoveu benefício analgésico pós-operatório quando comparado com animais que não receberam esse adjuvante.

Outro estudo com cães submetidos à cirurgia de disco intervertebral, também não foi observada redução na dor dos cães que receberam gabapentina em relação a aqueles que receberam analgesia com opioides. Porém, foi detectada tendência de escores menores de dor no grupo que recebeu suplementação com gabapentina. Isso talvez se deva ao fato de que a dor aguda pós-operatória é considerada nociceptiva e a gabapentina possui efeito anti-hiperalgésico, mas não antinociceptivo

Há efeitos indesejáveis com a Gabapentina?

Apesar da gabapentina estar ganhando popularidade no tratamento da dor, devemos lembrar que ela pode desencadear alguns efeitos indesejáveis. Por isso, ela deve ser utilizada com cautela e sempre acompanhada por um médico veterinário.

Em humanos, testes clínicos com administração crônica de gabapentina verificaram efeitos colaterais em 25% dos pacientes, incluindo fadiga, sonolência e ganho de peso. Porém, todos os efeitos foram cessados com a interrupção do uso do medicamento. Em pequenos animais estudos apontam efeitos semelhantes, sendo a sedação o mais comum, seguido de ataxia, nistagmo, inapetência, fadiga, ganho de peso, êmese e sialorreia. Assim, é sempre importante avaliar os benefícios da utilização da gabapentina e os possíveis efeitos indesejáveis, analisando caso a caso.

Gabapentina como sedativo?


Além das discussões geradas a respeito dos efeitos deletérios de sua utilização a longo prazo, há ainda controvérsias quanto à sua utilização como sedativo para transporte de gatos, que tem se tornado igualmente popular nas clínicas veterinárias. 

Estudos apontam que a doses acima de 20 mg (entre 50 mg e 100 mg) diminui a agressividade e estresse dos gatos à manipulação, desde que administradas entre 2 a 3 horas antes disso. Entretanto, em um desses artigos verifico-se que a dose 100 mg promoveu sedação (80%), ataxia (40%), hipersalivação (6,7%) e êmese (13,3%); efeitos que podem levar o animal a inapetência por até um dia, aumentando as chances de desenvolver lipidose hepática. Talvez não seja a melhor opção para acalmar o gato em transportes…

Concluindo…

Diante dessas informações, percebemos que a gabapentina pode ser uma boa alternativa como adjuvante para tratamento de pacientes com dor neuropática ou crônica, principalmente os que não respondem bem aos analgésicos convencionais.

Entretanto, é necessário acompanhamento clínico frequente dos pacientes tratados, monitorando os efeitos indesejáveis, para que não se sobressaiam aos benéficos. Ainda, animais tratados por longos períodos devem ser submetidos à avaliação bioquímica periódica para evitar sobrecarga hepática e renal, principalmente em gatos com predisposição à desenvolvimento de doença renal crônica.


Pra ler depois:
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